“O
Menino da Gaiola” vai lançar questões importantes a crianças e adultos a partir
de algo bem simples: a possibilidade do sonhar
“Você tem
algum sonho preso?”. Esta é a pergunta mais frequente de Vito, um garoto de
nove anos que, inspirado pelo tio, um criador de pássaros, resolve sair numa
jornada pelo mundo portando apenas uma gaiola. Mas não quer prender passarinhos
e, sim, anotar em papel os sonhos de cada pessoa para depois fazê-los voar, voar,
voar...
De perfil inegavelmente poético e indicado para
crianças a partir dos sete anos, “O Menino da Gaiola”, espetáculo infanto
juvenil com produção do Bureau de Cultura, cuja estreia está marcada para o
próximo dia 20 de julho, no Teatro Apolo, conta a história de Vito, este menino
curioso, esperto, que teima em saber os sonhos daqueles que encontra em seu
caminho. Vito é órfão de pai e mãe e vive com a avó Dona Erundina e o Tio
Efúvio. Ela, amável e dramaticamente divertida, gosta de contar lindas
histórias enquanto borda tecidos coloridos; ele, um companheiro familiar
incentivador, cria voadores em gaiolas espalhadas pela casa. É no aniversário
de Vito que surge a ideia do garoto sair pelo mundo portando sua gaiola, pronta
para receber, como pássaros de papel, sonhos mil. Presos até então, seu
objetivo é libertá-los.
Esta escolha pelo universo onírico ameniza temas
bem duros que são levados à cena, como, por exemplo, o abuso sexual de menores,
através da garota Liz, que sofre com seu padrasto. Para tratar deste assunto, o
diretor optou por uma marcação de cena que, de certa forma, pontua toda a
encenação, apostando no brincar constante. A difícil realidade do mundo atual está
ali, no tema exposto, mas numa linguagem que não vai agredir nem crianças nem
adultos e, certamente, vai lançar questões, já que um dos objetivos da
montagem, além de permitir debates ao final com a plateia (estão sendo
agendadas sessões especiais para alunos da rede pública de ensino e ONGs), é
fazer com que a família que vai ao teatro possa conversar sobre tudo o que foi
visto. É tirar o caráter passional do espectador, seja criança ou adulto; fazer
fervilhar reflexões na cabeça de cada um e permitir o diálogo familiar após
cada sessão.
“O Menino da Gaiola” é o primeiro texto
teatral assinado pelo ator, dramaturgo e publicitário recifense Cleyton Cabral,
atualmente em período de estudos na Argentina (mas já garantiu presença na estreia,
dia 20). No elenco, Evilásio de Andrade como o protagonista; Auricéia Fraga,
Márcio Fecher, Eduardo Japiassu e Ana Souza. A trilha sonora é uma criação
original da cantora e compositora Isaar, que foi buscar inspiração no próprio
filho e construiu tudo com a sonoridade de brinquedos, além da voz, flauta,
violino e didgeridoo,
instrumento de sopro. A iluminação é assinada por O Poste
Soluções Luminosas (Naná Sodré e Agrinez Melo); figurinos de Java Araújo;
maquiagem de Gera Cyber e cenários de Renata Gamelo, Arthur Braga e Samuel
Santos. Na produção executiva, Clarisse Fraga.
A encenação tem um ar despojado e já começa com o
elenco brincando com a percussão corporal e procurando saber o sonho de alguns
dos espectadores na plateia. Seguindo a máxima do que diz sua avó, “a gente
sonha e fica mais perto das estrelas que nos guiam”, Vito empreende sua jornada.
No caminho, Onário é a referência ao mendigo que teve o rosto queimado e vive
na escuridão (diz ele, “sem sonho é o nada, o vazio”); Lis é a garota que mora
na cidade de Sentilavras (sentimento + palavras) e sofre pelo assédio do
padrasto que teima em descobrir o posinho de boneca que a garota,
metaforicamente, traz numa parte do corpo; e os pescadores Domásio e Damásio só
conseguem achar sofás, pneus e geladeiras no rio que deveria lhes dar o peixe do
sustento. Como se vê, através destas personagens, questões do dia a dia
frequentemente estampadas no jornal vêm à tona, como um alerta às crianças e
adultos. “É uma dramaturgia corajosa, que lança assuntos dos tempos de hoje e
abre essa possibilidade do diálogo”, lembra o diretor Samuel Santos. Mas o tema
principal, que permeia todas as cenas, é mesmo o cultivar dos sonhos.
É tanto que, durante toda a trama, brincadeiras
como peteca, corre-corre, esconde-esconde são lembradas, tentando reavivar o
sonho libertário de cada uma das personagens, inclusive do garoto Vito, que não
conheceu os pais porque, segundo sua avó, eles “viraram estrelas”. Para o ator
Evilásio de Andrade, de 29 anos, mas com cara e jeito de menino, sua personagem
pautou-se na curiosidade. “Vito é um garoto atento a tudo, que não para.
Cercado por temas muito fortes, o mais bonito é perceber sua ingenuidade,
afinal, ele é uma criança. Isso dá uma leveza a mais a sua trajetória”, pontua.
O Menino Maluquinho, de Ziraldo, serviu de inspiração. “Eu sou quieto, tímido,
e Vito é o oposto de mim. Mas o mais legal é o encantamento que ele carrega em
si. Ele pensa com força e consegue o que quer. É essa possibilidade de sonhar e
realizar os desejos que tem a ver comigo”, completa.
Nesta fábula sobre a liberdade, Vito fica sendo,
então, esse menino que carrega o seu e o sonho de muitos...
Dia: do dia 20 de julho ao dia 04 de agosto/2013 [temporada aos sábados e domingos]
Local: Teatro Apolo
Duração: 55 minutos
R$5,00 [meia]
crianças, estudantes, professores e maiores de 60 anos
crianças, estudantes, professores e maiores de 60 anos
Informações:
Centro Apolo-Hermilo: (81) 33553320/ 33553321
Postado por: Erika G.L. França
Postado por: Erika G.L. França